Ele foi o vencedor na categoria de Inovação em Conteúdo do Prêmio Educadores Inovadores da Microsoft deste ano com o projeto Gamificação de Sorocaba, que une o ensino de tecnologia e o de geografia pela produção de jogos e cartuns. Os jogos, que são elaborados pelos alunos, usam informações da cidade como ponto de partida; já os cartuns, são de sua própria autoria. É conhecido também por suas animações que ensinam história e tratam de temas como o descobrimento do Brasil e a morte de Tiradentes. Entretanto, o projeto premiado do professor Rodrigo Araújo e sua busca por sempre inovar não foram caminhos assim tão divertidos quanto um videogame.
Mesmo já tendo sido demitido por sua “mania” de ensinar com desenhos, esse professor de história viu no seu jeito não convencional de dar aulas uma maneira de unir o útil ao agradável. Percebeu que, com os recursos que utiliza – games, animações e cartuns –, seus alunos se interessam mais pelo conteúdo que tem que dar e, ainda por cima, usa outras duas de suas habilidades: desenhos e games.
Nascido em Sorocaba, interior de São Paulo, no ano de 1976, passou toda sua infância e adolescência em Piedade. Com pai filósofo e historiador, mãe bióloga, não tinha como fugir; a política sempre fez parte de sua vida. Com apenas 16 anos teve uma charge selecionada para o Salão de Humor de Piracicaba. O ano era 1992 e, em plena confusão do governo Collor, o cartum trazia o título Onde está o Collor?, brincando com o tradicional jogo Onde está Wally?. “Diferentemente do gosto da política, que veio através dos meus pais, o desenho foi uma coisa muito natural. Eu desenhava com meus amigos, criávamos nossas próprias histórias”, explica Rodrigo. Em 1993, depois de passar a noite num show do ex-beatle Paul McCartney, ele foi reprovado em seu primeiro vestibular para o curso de história. “Eu fiquei tão eufórico que, no dia da prova, estava viajando. Mas valeu a pena”.
crédito fat*fa*tin / Fotolia.com
 
Aos poucos, sua relação com cartunistas profissionais foi se intensificando e a necessidade de compreender política cresceu. “Fiquei em dúvida entre fazer alguma faculdade de artes, publicidade, mas aí pensei que precisava saber de política para desenhar e decidi estudar história”, explica, sem deixar de confessar com bom humor: “E eu sempre fui muito fã de Asterix, foi um jeito de unir todos os gostos”.
Enfim, professor
Um ano depois de iniciar o curso, ele conseguiu seu primeiro emprego como professor para alunos de 6a 9 o. “Já produzia, à mão, quadrinhos sobre a história do Brasil, de Tiradentes e dava para os alunos. Tentava inovar como podia, sem tecnologia nenhuma”, explica. Nem sempre seus projetos eram bem aceitos. Certa vez, depois de trabalhar durante um ano em uma escola, lecionando com animações e cartuns, foi demitido no último dia de aula. A justificativa da dona da escola: “Você dá aula com desenhos”.
Depois de uma rápida experiência como roteirista numa empresa de multimídia, Rodrigo resolver ousar mais. Com o conhecimento adquirido, começou a animar os slides que usava em sala de aula. Uma vez, certa turma de 5ano não aprendia nada e o professor estava frustrado. Numa tarde qualquer, a sala quase vazia, um aluno resolveu contar toda a história de um dos mais complexos jogos de RPG, o Final Fantasy. “Foi aí que eu pensei, eles devem aprender sobre a Grécia assim: jogando”, diz o Rodrigo.
crédito Rogerio Augusto Ayres de Araujo / Divulgação
 
Através de um software chamado Game Maker começou a desenvolver seus primeiros jogos, mas isso não bastava. “No ano de 2011 pintou oportunidade de um curso no Senac, uma pós em Games. Eu precisava me qualificar”. Sua proposta era a produção de games como ferramentas do ensino de história e, como trabalho de conclusão de curso, desenvolveu o Flamengo, jogo baseado na invasão holandesa no Brasil, para crianças do ensino fundamental.
Hoje, Rodrigo consegue dividir metade de suas aulas entre lousa e giz e jogos e cartuns. Todas as suas produções educacionais buscam envolver os alunos. “Eles desenham, roteirizam, buscam informações regionais e, principalmente, aprendem com esse novo método”.
Se a concorrência das escolas para tê-lo no corpo docente aumentou? “Pior é que não. No final desse ano termina o meu contrato e ainda não tenho propostas de trabalho. Ainda há um certo preconceito com esse tipo de ensino, sinto um certo desprezo por parte dos colegas”, desabafa. Com o chapéu na cabeça, sua marca registrada, sabe que seu trabalho sofrerá resistências, mas não pensa em desistir e diz: “Vou lutar muito para que essa prática seja comum, já passou da hora de inovar”.
Fonte: Porvir

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