Documentário "DESCARTE" traz histórias inspiradoras sobre reutilização do lixo.

Como dar novos destinos a tudo o que é consumido? Novo filme traz várias perspectivas de transformação dos materiais recicláveis.


Por: Redação CicloVivo
29 de janeiro de 2021


Incomodado com os efeitos públicos da gestão do lixo, inclusive em sua vida privada, Leonardo Brant apresenta em DESCARTE, seu novo documentário produzido pela Deusdará Filmes, histórias inspiradoras e educativas sobre como se pode dar novos destinos a tudo o que é consumido. O filme estreiou na última quinta-feira (28) nas plataformas de streaming Now, Vivo Play e Looke.

“Atualmente são produzidas 10 bilhões de toneladas de lixo por ano com contaminação do ar, oceanos e aquíferos. Mesmo nesse cenário, não queria que o documentário abordasse o lixo como uma catástrofe inevitável, mas como um problema a ser superado, com ações que estão fazendo a diferença”, conta Leonardo Brant.

Rodado durante a quarentena em filmagens presenciais e remotas, e com a utilização de três câmeras diferentes para as conversas por meio de videochamadas, DESCARTE – patrocinado pelo Atacadão, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura – tem como pano de fundo o drama social do lixo no Brasil e traz ao centro da discussão os 10 anos da Política Nacional de Resíduos Sólidos (lei 12.305/10), que organiza a forma com que o Brasil lida com o lixo, exigindo dos setores públicos e privados transparência no gerenciamento de seus resíduos.

Depois dos documentários CTRL-V, sobre as relações de poder e efeitos da indústria audiovisual nas sociedades contemporâneas e Comer o Quê?, sobre a comida e sua relação com a cultura, o meio ambiente, a cidadania e a sociedade, Leonardo Brant mostra, em seu novo filme, as diversas formas de reutilização criativa dos resíduos sólidos, e assim, dá continuidade a ideia de debater a sociedade por meio da cultura e dos hábitos sociais e cotidianos.

Criatividade e inovação

DESCARTE é apresentado a partir do trabalho de sete artistas, designers, artesãos e ativistas que transformam materiais recicláveis com inovação e sensibilidade. No documentário, enquanto falam sobre seus processos criativos e as relações com os resíduos, os sete personagens aparecem confeccionando seus produtos e objetos.

A paulistana Maria Aparecida Dias é catadora, artista, presidente da cooperativa Glicério e integra o coletivo Dulcinéia, que realiza pinturas em capas de livros, feitas de papelão. Seus trabalhos já foram expostos em livrarias de Londres, Inglaterra. Enquanto Vandré Nascimento, do Rio de Janeiro, é músico amador e confecciona instrumentos musicais a partir de sucata. Em 2008 fundou a Associação Lata Doida com o objetivo de promover experiências criativas, artísticas, educativas e sustentáveis no Realengo, zona oeste da capital fluminense.

O artista visual Rodrigo Bueno cria em seu ateliê composições mistas de resíduos da cidade: papel, madeira, plantas e pintura dialogam entre si. Já a estilista autodidata e ativista trans Vicenta Perrotta, de Campinas, interior de São Paulo, se desdobra em diversas atividades, todas carregadas de vivências e mensagens que conscientizam e educam as pessoas sobre a realidade e a cultura trans.

A arquiteta e urbanista paulistana Léa Gejer aplica as ideias de economia e design circular à arquitetura, planejamento urbano e produtos industriais, e construiu a primeira casa circular da América do Sul. Nascida também em São Paulo, Roberta Pestana criou a Ton Zé Toys, uma oficina criativa de brinquedos produzidos de forma sustentável, fazendo uso apenas de matérias primas de origem natural.

Luis Cesar de Oliveira é paranaense e fundador da Ignis Industrial, que transforma pedaços de maquinários, móveis e objetos antigos, madeiras, metais e plásticos descartados em objetos únicos.

Lixo e cidades

Segundo dados do SNIS – Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, do Governo Federal, em 2019 foram coletados 65,11 milhões de toneladas de resíduos no Brasil, sendo que somente 1,6% de resíduos recicláveis secos foram recuperados, o que perfaz um índice de 7,53 kg/hab./ano. Do total de resíduos produzidos no país 75,1% foram dispostos em aterros sanitários e 24,9% foram dispostos em unidades consideradas inadequadas, como aterros controlados e lixões.

Com narrativa em primeira pessoa – na voz do próprio Leonardo Brant – DESCARTE mescla imagens e entrevistas com animações e ainda apresenta a canção Catadores interpretada por Caê Rolfsen, que assina a composição com Rodrigo Campos. A música inédita tem produção musical e mixagem de Bernardo Goys. “Apesar de algumas informações mais didáticas sobre o lixo, o documentário traz um lado lúdico para pensarmos nossas posições e responsabilidades diante de todo o lixo que produzimos”, explica ele.

DESCARTE também apresenta depoimentos e entrevistas de 21 especialistas, ativistas e gestores de resíduos, abordando temas, como a relação do lixo com as cidades, habitat, civilização, lixões e catadores.

Os entrevistados são: Ailton Krenak (líder indígena, ambientalista e escritor), Aline Matulja (engenheira sanitarista e ambiental), Ana Borba (fundadora da Lixiki), André Palhano (jornalista e diretor da Virada Sustentável), Elisabeth Grimberg (coordenadora de Resíduos Sólidos do Instituto Pólis e membro da Aliança Global Alternativas à Incineração), Erich Burger e Rafael Henrique (da Recicleiros, que está implementando uma política de resíduos sólidos em Jericoacoara, no Ceará, junto com Sônica Cavalcanti, Jessicka Albuquerque e Zé do Lixo), Fabricio Soler (advogado e professor), Fernando Beltrame (presidente da Eccaplan Consultoria e idealizador da Campanha Sou Resíduo Zero), Fernando Rossetti (consultor sênior da Reos Partners), Lívia Humaire (geógrafa, ambientalista e idealizadora do projeto Transições Ecológicas), Luciana Annunziata (escritora, empreendedora de impacto, sócia da Casa Causa), Mariana Moraes (idealizadora do @verdesmarias), Mariana Rico (educadora ambiental e gestora do Instituto Estre), Marcus Nakagawa (professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing e idealizador e conselheiro da Abraps), Mundano (artivista do projeto Pimp My Carroça), Patrícia Maria de Jesus (professora da Universidade Federal do ABC) e Tarcísio Paula Pinto (urbanista).

De acordo com Leonardo Brant o aprendizado gerado durante as filmagens renderá outras ações, como uma temporada com sete episódios do podcast #AOLEO para falar da pesquisa e do processo criativo do filme, um videoclipe com a música original do documentário, um ebook e debates programados para universidades e organizações não-governamentais.

“Com certeza é possível se mobilizar e mudar. Uma reflexão solo pode virar uma reflexão coletiva e auxiliar na mudança de comportamento. A cultura do lixo pode ser transformada”, acredita ele.

Leonardo Brant

Documentarista, autor dos filmes CTRL-V e Comer o Quê?, entre outros, é diretor do programa Idade Mídia do Canal Futura e codiretor da série Utopia Brasil. Autor do livro O Poder da Cultura, tem uma vasta produção literária sobre arte e cultura. Ligado a causas sociais e ambientais, Brant participa ativamente de inúmeros movimentos de arte, cultura e sociedade. É fundador do Instituto Pensarte e idealizador do Projeto Asa, ateliê de arte-cidadania que atendeu mais de cinco mil crianças em todo o país. É diretor associado da Deusdará Filmes.

Série “Como mudar o mundo sem sair de casa” mostra hábitos sustentáveis

Fonte: Ciclo Vivo

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