Grupo de amigos cria aplicativo que facilita a vida de quem precisa compreender a linguagem dos sinais

Reportagem de: Adriana Santana

Com o desafio de ampliar as possibilidades de comunicação de pessoas com deficiência auditiva, um grupo formado por Ronaldo Tenório, 28 anos, Carlos Wanderlan, 32, e Thadeu Luz, 31, desenvolveram o Hand Talk, um aplicativo on-line gratuito que foi eleito pela Organização das Nações Unidas (ONU) como melhor app de inclusão social do mundo, em 2013.
O aplicativo funciona de modo simples, basta que o usuário digite uma mensagem de até 140 caracteres em língua portuguesa e, em segundos, o Hugo, personagem de animação em 3D, irá traduzir a frase na Língua Brasileira de Sinais (Libras).
O usuário também pode optar por falar a frase que deseja ser traduzida, esperar carregar, e, em seguida, o Hugo fará a tradução. Além disso, a sentença escrita aparece simultaneamente em sinais. Desse modo fica mais fácil entender o que cada gesto da animação quer dizer.
Para repetir as frases, basta clicar em cima do personagem duas vezes seguidas. Também é possível acessar o histórico para refazer as traduções e alterar a velocidade que o personagem faz os sinais em Libras, acessando o guia as opções e os ajustes.

De acordo com informações da assessoria de imprensa, o aplicativo consegue traduzir textos em imagem, mas quando a equipe do Portal Setor3 testou essa funcionalidade não teve efeito, pois não era possível localizar a fotografia, mesmo legível, na galeria de imagens. Atualmente, o Hand Talk faz somente traduções de português para Libras, mas de acordo com Ronaldo Tenório, em breve, Hugo fará traduções em outros idiomas.


Atualmente a equipe Hand Talk é formada por sete pessoas, entre elas, Jamilly Souza, jovem surda de 28 anos, que é filha de Jane Souza, psicóloga pioneira no ensino de Libras, em Maceió (AL).

Um dos criadores dessa ferramenta conversou com a equipe do Portal Setor3 e contou mais detalhes sobre o aplicativo, como surgiu a ideia para criá-lo e também o que pensa sobre a temática da inclusão social no Brasil.


Portal Setor3 - De onde surgiu a ideia para criar o aplicativo?

Ronaldo Tenório - A ideia surgiu na faculdade, quando eu tive a oportunidade de desenvolver um projeto relacionado à comunicação. Como eu tinha acabado de sair do curso de ciência da computação, pensei que poderia unir tecnologia à comunicação para ajudar pessoas. Pesquisei sobre pessoas com deficiência e encontrei na comunidade surda uma imensa dificuldade de comunicação com os ouvintes. A ideia ficou engavetada por alguns anos e, em 2012, resolvi colocá-la em prática junto com meus amigos, que hoje são meus sócios: Carlos Wanderlan e Thadeu Luz. 

Portal Setor3 - Qual era o objetivo de vocês com a criação desse aplicativo?

RT - Nosso objetivo inicial foi diminuir a barreira de comunicação entre surdos e ouvintes através de um canal que aproxime esses dois grupos.

Portal Setor3 - Antes de desenvolver esse aplicativo, você realizou pesquisas para identificar as principais dificuldades do público-alvo?

RT- Sim. Desde a criação do primeiro protótipo, nós trabalhamos lado a lado com a comunidade surda. Seguimos modelando a ferramenta constantemente, até hoje. Uma grande questão é que a maioria dos surdos tem a Libras como sua língua oficial e têm imensa dificuldade em entender o português escrito, diante disso, eles dependem exclusivamente da Língua de Sinais para se comunicar. E esse é um problema global.

Portal Setor3 - Você teve referência de outros países? Sem sim, quais?

RT- Sim. Desde o prêmio da ONU que recebemos em Abu Dhabi, em 2013, estamos tendo uma grande repercussão lá fora. Inclusive um dos próximos passos da Hand Talk é a internacionalização. Representantes de países como Estados Unidos, África do Sul, Colômbia, Inglaterra, Espanha, Portugal e os próprios Emirados Árabes já conversaram conosco demonstrando interesse em levar a Hand Talk para lá.


Portal Setor3 - Esse aplicativo consegue traduzir em outras línguas, além do português? Se não, pretende integrar essa função? 

RT- No mundo, são cerca de 200 línguas de sinais. Hoje o app traduz o português para Libras e já estamos trabalhando forte para inserir logo mais línguas de sinais para impactar surdos de outros países.

Portal Setor3 - Você já recebeu algum retorno de usuários, ou de especialistas sobre o aplicativo? Como foi?

RT- Sim, muitos e diariamente! São depoimentos muito bacanas, como o de um pai que tem um filho surdo de 10 anos e até então não conseguia se comunicar com seu próprio filho, pois ele não sabia língua de sinais e seu filho não sabia ler em português, e a relação entre eles era bastante complicada. 

Com o lançamento do aplicativo, esse pai nos enviou um depoimento emocionante falando que baixou e que está aprendendo com o Hugo alguns sinais e se comunicando bem mais com seu filho, e que a relação entre eles vem melhorando bastante com a ajuda da Hand Talk.

Portal Setor3 - Você planeja criar outros aplicativos que facilitem a vida de seus usuários?

RT- Nosso foco hoje é a Língua de Sinais. Dentro desse universo temos planos de lançamento várias outras aplicações com Hugo.

Portal Setor3 - Em sua opinião, o Brasil é um País que proporciona condições de acessibilidade para pessoas com deficiência física?

RT- Infelizmente ainda estamos muito atrás de outros países. A boa notícia é que tem gente muito criativa por aqui e o avanço da tecnologia está facilitando a criação de ferramentas de acessibilidade bem bacanas.

     Serviço:
Conheça o site do aplicativo: www.handtalk.me

Leia também a notícia: Aplicativo móvel traduz português para a Língua Brasileira de Sinais gratuitamente
Fonte:Setor 3

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