Depois de perder filha, pai constrói parques acessíveis e públicos para homenageá-la
Rodolfo Fischer, o Rudi, quer erguer vários parques em que crianças com e sem deficiência possam brincar juntas – e, assim, homenagear Anna Laura, sua filha
Reportagem de Felipe Blumen
“Na verdade, a palavra ‘inclusão’ não é boa. O ato de incluir
parte do pressuposto que alguém está excluído e, se tratando de
crianças com deficiência, ninguém está excluído. Todas são diferentes,
mas fazem parte do mesmo grupo que as crianças sem deficiência. Afinal,
são todas crianças.”
Quem defende essa ideia é Rodolfo Henrique Fischer, o homem que quer
inaugurar quatro novos “parques acessíveis” por ano em várias cidades do
país. O primeiro será inaugurado no próximo sábado, 25, em São Paulo
(no dia do aniversário da cidade), em homenagem a Anna Laura, sua filha.
Recomeço
Rudi, Claudia e a então pequena Anna Laura. “Tudo que fazemos hoje é em nome dela. É nossa homenagem. É nossa terapia.”
Rudi, como Fischer é conhecido, era um trabalhador do mercado
financeiro que havia decidido passar mais tempo com a família quando foi
surpreendido por uma grande perda – Anna Laura, filha dele com a
psicóloga Claudia Petlik, sofreu um acidente e faleceu aos três anos de
idade.
“Estávamos com uma viagem marcada para Israel, para um evento de
família, e decidimos mantê-la mesmo depois do acontecido”, lembra o pai.
“Lá, conhecemos uma associação que tinha o objetivo de integrar
comunidades de religiões diferentes e que tinha um pequeno parque com um
único brinquedo inclusivo no meio. Achamos fantástico e pensamos em
trazer essa ideia para o Brasil”.
Aqui, a ideia ganhou a forma de uma homenagem a Anna Laura. Foi
crescendo, evoluindo e ganhando apoiadores. Graças a parcerias pontuais,
o primeiro parque do projeto “ALPAPATO, Anna Laura Parques Para Todos”
já está pronto. O objetivo é que mais quatro sejam construídos por ano
em várias cidades que tenham a demanda de locais acessíveis de lazer –
todos abertos ao público.
Os parques terão brinquedos que podem ser usados por crianças com e sem deficiência. O projeto traz consigo algo definido por seus criadores como um “novo
conceito de acessibilidade”. Não se trata de inclusão, mas de
integração. “O parque é para todos e pode ser aproveitado tanto por
crianças com deficiência como por crianças sem deficiência”, explica
Rudi. “Temos ainda a intenção de transformá-los em polos de atividades
culturais e esportivas para pessoas com deficiência.”
Terapia
Quem financia tudo é o próprio Rudi. “Tudo que foi preciso pagar eu
paguei, mas só porque contei com a ajuda de um grupo muito especial de
apoiadores”, conta. “Cada pessoa contribui como pode, com serviços,
ideias, trabalho manual ou até abrindo mão de lucros por acreditar no
projeto. É um prazer.”
O
primeiro parque fica na AACD do Parque da Mooca. O próximo será no
Parque do Cordeiro, na Zona Sul. A intenção é chegar a outras cidades do
país.Rudi e Claudia ainda têm outros planos para o futuro. Além dos
parques, um livro sobre Anna Laura e a mudança de vida de seus pais, uma
biblioteca e uma ONG para auxiliar pais em luto são projetos que podem
aparecer. “Para mim esses projetos são uma terapia. Tudo que fazemos é
em nome da Anna Laura.”, confessa Rudi. “Passar por uma perda tão grande
nos faz repensar toda a nossa vida. Cada um lida de um jeito com isso,
mas quem sabe não podemos ajudar outras pessoas?”, conclui.
O primeiro parque fica na unidade AACD localizada dentro do Parque da
Mooca. Ele será aberto ao público de segunda a sexta, provavelmente das
13h às 17h – a GCM, Guarda Civil Metropolitana, ainda vai confirmar os
horários. O próximo deve ser no Parque do Cordeiro, na zona sul. E, para
Rudi e Claudia, que está grávida, é só o começo.
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