Meu filho não gosta de estudar. E agora?

Como identificar o que desmotiva o seu filho nos estudos e o que fazer em cada caso para ajudá-lo a dar importância à aprendizagem


Reportagem de  Stephanie Kim Abe

Foto: Marcella Briotto
Foto: estudante
Criar o hábito do estudo, dar o exemplo para os filhos e fugir das broncas e punições são maneiras de cultivar o gosto pelo estudo dentro de casa

Todos os pais esperam que os filhos sejam alunos exemplares e dedicados. Mas quando o cenário é o contrário, é difícil saber que atitudes tomar para reverter essa situação. Baseados nos depoimentos feitos pelos leitores na página do EDUCAR PARA CRESCER no Facebook, consultamos a educadora, escritora e ex-consultora do MEC Andrea Ramal sobre a questão.

Em seu livro Filhos bem-sucedidos (Editora Sextante), Andrea explica que o "primeiro passo para o estudo funcionar bem é criar o hábito". As dificuldades podem ser evitadas se os pais explicarem, desde sempre, a importância do estudo para a vida da criança. E, para isso, eles precisam dar abertura para o filho se expressar por meio do diálogo.

Além disso, é preciso fugir das broncas, punições e ameaças. "Tudo pode ser dito de maneira diferente. Educação não pode acontecer só com base no castigo, porque senão fica uma Educação pela punição e o estudo acaba sendo visto como algo negativo", explica ela. Em vez disso, procure recompensar a dedicação com reconhecimento, elogios ou mesmo premiações (como livros, um passeio, piquenique no parque ou preparando a comida favorita do filho). Ela ainda faz um alerta para quem premia o filho com dinheiro: "acho que não é algo interessante, porque acaba incentivando uma visão mercantilista e criando uma pessoa materialista".

Finalmente, os pais precisam também dar o exemplo para os filhos. "É muito difícil para uma criança pequena estudar e fazer dever enquanto os pais estão ao lado assistindo TV e se divertindo", explica. Mostrar que tem hábitos de leitura, fazer algum curso, cursar uma pós-graduação e incentivar atividades familiares educativas (como ida a museus, jogos educativos e leituras) são atitudes que mostram que os pais tem apreço pelos estudos. Afinal, se os pais não ensinam a importância da escola, como fazer com que os filhos aprendam isso? "Estudar é aprender, é se desenvolver, é se tornar uma pessoa mais madura e mais capaz. Então é algo bom e os filhos precisam ver isso de uma maneira positiva", diz Andrea.

Veja alguns casos mais comuns de desmotivação, como identificá-los e o que fazer para ajudar o seu filho a ter mais gosto pelo estudo quando:

1. Tem dificuldade em uma matéria específica ou não se dá bem com o professor
 
Situação elaborada com base nas dúvidas de Rita Costa, Karla Borges e Giullianna Ragazzinni

Que pai nunca ouviu um "Por que eu estou aprendendo isso?" ou "Eu nunca vou usar isso na minha vida!"? Principalmente quando os filhos não gostam ou têm dificuldade em uma matéria específica.

"O mais importante é tentar relacionar o conhecimento com a vida - coisa que, infelizmente, nem sempre a escola faz ou sabe fazer", explica a educadora, escritora e ex-consultora do MEC Andrea Ramal . Sente junto com o seu filho, reveja a matéria, ajude-o com os exercícios e mostre que o assunto tem aplicação prática e a importância de seu aprendizado. "Os pais podem explicar, por exemplo, que quando vão ao supermercado ou pagam as contas, precisam da Matemática", diz ela.

Se os pais não têm familiaridade com o assunto, vale pedir ajuda da escola e manifestar essa preocupação na reunião de pais. Pode ser que a forma como o conteúdo tem sido passado não é acessível às crianças ou as explicações do professor não estão de acordo com o grau de conhecimento da classe. "Conversar com outros pais é muito importante. Às vezes, quando uma criança está desmotivada em uma matéria, várias outras da turma também estão, o que pode mostrar que o problema não é da criança, e sim do professor", explica. Mesmo que o problema seja esse, nunca desautorize o professor na frente da criança, porque isso incentiva o desprestígio dele.

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2. Inicia um novo ciclo escolar e muda o comportamento
 
Situação elaborada com base nas dúvidas de Célia Cristina M., Luciene Aguiar Figueiredo, Andréa Fontanela e Gisele Macan

Seu filho sempre gostou de estudar - ou pelo menos nunca deu trabalho em relação a isso -, mas de repente ele começou a ficar preguiçoso e desanimado com os estudos. Essa mudança no comportamento pode ocorrer devido às transições de fase escolar. "Justamente entre os seis e sete anos a criança sai da pré-escola, onde tudo era só brincar, e ela entra no primeiro ano, quando começa a ter aulas mais formais e provas", explica Andrea Ramal, educadora, escritora e ex-consultora do MEC. Já entre os 10 e 12 anos, ocorre outra virada: a criança entra no Ensino Fundamental 2, quando há vários professores, aulas diversificadas, mais matérias, mais deveres, mais materiais para carregar na mochila.

Para ajudar o seu filho nesses períodos de transição, é importante que os pais o ajudem em sua organização, acompanhem a criança para que ela não se sinta sozinha nesses novos desafios e organizem os seus horários de estudo, para que o momento de fazer a lição de casa seja aquela hora do dia em que ela está mais motivada e tem mais capacidade de concentração. "Coloque o estudo nos momentos em que o aluno rende mais. Não adianta colocá-la para estudar depois da novela, antes de dormir", explica a especialista.

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3. Fica de recuperação ou repete de ano
 
Situação elaborada com base nas dúvidas de Fabiana Saraquini, Carmelita Leão e Gil Rosa.

É preciso encarar a recuperação como algo que acontece por uma simples diferença de ritmos de aprendizado, e não como um bicho de sete cabeças. Identifique os motivos que ocasionaram essa situação (falta de tempo, falta de estudo, dificuldades pontuais) e tente mudar esse comportamento - organize um novo cronograma, dê mais atenção àquele tópico da matéria, monte um grupo de estudos com os colegas para dar força ao seu filho.

Contratar um professor particular deve ser última opção. "Existem pais que deixam a criança brincar o ano todo e no final do ano contratam professores particulares para a recuperação e o aluno passa raspando por causa disso. Isso não é legal porque dá um ensinamento de que ele pode brincar o ano todo que no final ‘eu dou um jeito’; e, segundo, ‘meus pais sempre dão um jeito para mim’", orienta Andrea Ramal.

O importante é não dar broncas ou culpar a criança, mas mostrar a ela que você acredita no seu esforço para se recuperar e em seu potencial.

No caso de repetir de ano, muitos pais decidem mudar de escola. Lembre-se sempre de tomar essa decisão junto ao seu filho. No caso de colocá-lo em uma nova escola, assegure-se de que ela tenha o mesmo nível de ensino que a outra, para não defasar a aprendizagem da criança. Se a decisão for permanecer na mesma, será mais gratificante ao seu filho quando passar de ano, pois o desafio vai ser maior.

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4. Chora, grita e esperneia na hora de estudar
 
Situação elaborada com base nas dúvidas de Adriana Moura Seixas, Roseli Linhares e Marcela Marques Bandeira

"Minha filha não demonstra interesse, chora para fazer lição, é preguiçosa para estudar, reclama toda vez que tem que fazer tarefa, enrola e faz escândalo na hora de corrigir o dever de casa…". Essa cena é uma das mais comuns em casa e um problema pelo qual muitos pais se descabelam e não sabem o que fazer. Para a educadora, escritora e ex-consultora do MEC Andrea Ramal, é, em grande parte, uma questão de birra. "Tem a ver com a própria disciplina que os pais conseguem colocar em casa", explica ela.

Estabelecer limites e organizar a agenda da criança é a melhor forma de lidar com esse cenário. "É importante que os pais consigam estabelecer horários para tudo. E tem que ter uma hierarquia nisso: a hora do estudo é mais importante do que a hora da brincadeira".

Faça a criança participar das negociações: "só quando estudar é que vai poder brincar; só quando fizer dever de casa vai poder sair para a rua para jogar futebol".

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5. Estuda pouco, mas passa de ano
 
 Situação elaborada com base nas dúvidas de Patrícia Costa e Milena Clos

Você nunca vê o seu filho estudando, mas ele consegue passar de ano. Ou ele estuda pouco e tira notas em cima da média. "Passar de ano raspando" não é o suficiente e é normal que os pais exijam que seus filhos estudem mais. "Comparado a outros países, o estudante brasileiro estuda pouco. Temos uma carga mínima de quatro horas. Então, o ideal seria que essas poucas horas de estudo na escola fossem complementadas por horas de estudo em casa", explica a educadora, escritora e ex-consultora do MEC Andrea Ramal.

Organize a agenda da criança com um plano de estudos, para que cada dia ela estude uma matéria diferente, mesmo que não tenha provas. Em seu livro Filhos bem-sucedidos (Editora Sextante), a especialista sugere a ideia de fazer uma analogia com o esforço que um atleta que seu filho admire precisa para chegar ao patamar alcançado. Explique que o ídolo também se dedica a uma rotina de treinamento e que não adianta ele se preparar para competições importantes apenas no dia anterior.

Andrea também chama atenção para os pais que ficam com dó e pensam que estão cansando os filhos ou têm medo que estejam cobrando muito. "Os pais não precisam ter pena porque as crianças estão estudando. Estudar é uma das nossas obrigações", explica.
 
6. Tem dificuldade de concentração e/ou muita energia
 
 Situação elaborada com base nas dúvidas de Leide Barbosa, Cleude Chagas e Karina Martins

TV ligada, computador na mesa, celular na mão... Com tantas distrações ao alcance da criança, não é à toa que ela não dê muita atenção ao dever de casa ou à prova do dia seguinte. Apesar de hoje em dia estarmos acostumados a fazer muitas coisas ao mesmo tempo, estudar requer concentração e foco. Para melhorar o ambiente de estudos, convença seu filho a desligar todos os aparelhos eletrônicos e explique que assim os estudos vão render mais. E, quanto mais eficientes forem as leituras, mais cedo ele pode voltar para os seus brinquedos e redes sociais depois.

Se o problema é muita agitação - o famoso "ele não consegue parar quieto" -, incentive-o a praticar outras atividades, como esportes ou aula de música, de forma a canalizar as suas energias. "Um instrumento musical estimula muito a concentração, e isso acaba passando para outras áreas também", diz Andrea Ramal, educadora, escritora e ex-consultora do MEC.

É importante ressaltar que hiperatividade é diferente de TDAH - há muitos pais que confundem isso e, sem o diagnóstico de um especialista, medicam os seus filhos para esse transtorno. Se há uma desconfiança com relação a algum distúrbio de aprendizagem, o primeiro passo é consultar um especialista (veja mais no item 8).

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7. Estuda e se esforça, mas não tira boas notas
 
 Situação elaborada com base nas dúvidas de Eliana Meira e Liria Valverde Knutti

Você vê o seu filho estudar, mas as notas não estão boas, parece que o estudo não rende, chega na hora da prova e ele não vai bem, diz que esqueceu tudo e esse desempenho ruim começa a fazê-lo estudar cada vez menos e ficar mais resistente às aulas. Se isso acontece na sua casa, pode ser o caso de algum problema de aprendizagem não diagnosticado, como discalculia, dislexia, disortografia, TDAH. "A consequência mais próxima disso é que depois a criança acaba se desmotivando a estudar, porque ela se sente mais lenta que os outros", explica a educadora, escritora e ex-consultora do MEC Andrea Ramal.

Nesses casos, vale a pena levar a criança a um especialista ou a um psicopedagogo, para ter uma base científica do distúrbio. Também preste atenção para possíveis problemas de visão ou audição. "Muitas vezes são desprezados esse distúrbios e os pais dizem que o filho é preguiçoso, e não é bem assim", diz Andrea.

Com um diagnóstico seguro em mãos, os pais devem seguir as orientações de um especialista, já que cada caso é um caso. O profissional poderá orientar melhor sobre que ações tomar para motivar o filho para os estudos. Mas não deixe de incentivá-lo mais em seus acertos e tente não reprimi-lo tanto por seus erros, principalmente na frente de seus colegas.

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8. Não gosta de ir para a escola
 
 Situação elaborada com base nas dúvidas de Eliane Santos e Nicolas Matheus Baffi

Quando o filho reclama de ir à escola, pede para trocar de colégio, tem resistência a atividades escolares, é preciso avaliar se ele não está sendo vítima de bullying.

Os efeitos do bullying nunca vêm sozinho - parar de estudar, ficar mais deprimido, faltar na escola, matar aula e desapego aos colegas de classe podem ser alguns deles. "Quem sofre bullying fica muito fragilizado, então é importante mostrar que os pais estão ao seu lado e que a criança não é pior que ninguém", diz Andrea Ramal, educadora, escritora e ex-consultora do MEC.

Converse com o seu filho, fortaleça a sua autoestima, incentive-o a buscar o professor e procure a escola imediatamente. Se a situação não se resolver em pouco tempo, mude de instituição. "Esse é um dos casos em que, se a escola não consegue dar conta, infelizmente não tem outro jeito", explica a especialista.

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9. Já é adolescente e nunca teve hábito de estudo
 
 Situação elaborada a partir do depoimento de Idamaria Monteiro da Silva

É mais difícil estimular os jovens, principalmente se eles já não tiveram o hábito de sempre estudar ao longo da infância. Mas não é impossível. Uma saída pode ser apelar para a escolha da carreira profissional e a importância dos estudos para que consiga o que eles almejam. "Qual a profissão que o seu filho vai querer escolher? Para ter sucesso nessa profissão, ele vai precisar de uma boa universidade. Para escolher uma boa universidade, ele vai ter que se sair bem no Enem. Então, vamos focar no Enem, por exemplo, para ter uma boa formação no futuro", explica a educadora, escritora e ex-consultora do MEC Andrea Ramal.

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10. Acabam as férias
 
 Situação elaborada com base na dúvida de Geane Maia Freitas

Mal acabaram as férias e as crianças já estão desanimadas com os estudos. Essa resistência é comum na época de volta às aulas - já que implica retorno à rotina, acordar cedo ou mesmo sentir certa saudades dos pais, pois durante as férias a família costuma passar mais tempo junta. Por isso, é importante que haja uma adaptação gradativa: monitore as horas de sono do seu filho, acostumando-o a dormir cedo na última semana de férias, e divida o tempo nos primeiros dias de aula para que não seja só brincadeiras ou só estudos o dia inteiro. Também vale acompanhar o filho até a escola, arrumar o seu material e incentivá-lo lembrando das coisas boas que ele voltará a ter - como rever os amigos, aprender coisas novas e retomar as aulas de futebol, natação ou balé.

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Fonte: Educar para Crescer

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